Recomeço: um mal necessário
Talvez uma das mais absolutas necessidades de nossa
existência neste planeta seja a disposição e capacidade de recomeçar. Já perdi
a conta de quantas vezes tive que fazê-lo.
O problema é que quando a prática é fruto de uma decisão
pensada, programada, todas as outras relações futuras, fruto desse recomeço
planejado, fazem parte do pacote todo: nos organizamos e preparamos para as
provocações e cobranças advindas da aventura.
Já, quando são a necessidade e as circunstâncias que nos
forçam a determinar um novo rumo, este se apresenta inusitado, surpreendente e,
em algumas vezes, assustadores. Principalmente quando esta imposta mudança se
dá já em momento adiantado de existência. Após termos já definidas nossas
prioridades, nossa personalidade, nossa natureza e relação com o resto do
mundo. Quando acontece em um momento em que não havia plano algum de mudança ou
retomada de percurso, a bagaça é sinistra.
Ter que, em detrimento de vontade, plano ou desejo, restabelecer
e reinventar uma nova relação com o mundo já interiorizado é, no mínimo um
exercício cansativo. Se não temerário.
Por outro lado, há que se ter clara a visão de que o
necessário é, por alguns momentos de bonança, meio que invisível. O imobilismo
provocado por uma suposta segurança emocional, profissional e financeira, tem o
poder de nos roubar a curiosidade e o senso crítico. Uma existência cognitiva devidamente
equalizada nos proporciona certo prazer, ao mesmo tempo que nos faz acreditar
que aquilo tudo basta.
Por isso que as mudanças provocadas por fatores externos
e de certa forma fora de nosso controle ou desejo são por vezes necessárias. Ainda
que inesperadas.
O fato é que, disposto ou não, preparado ou não, mudanças
que culminam na necessidade inevitável de se recomeçar, direta ou indiretamente
acabam por proporcionar mais ganhos do que perdas, já que não deixa de ser um
fator a mais de aprendizado e eventual fator de crescimento. E, nesse caso
especial, a questão de idade ou momento perdem completamente o peso e a importância,
frente às incomensuráveis possibilidades e experiências potenciais.
A partir daí, qualquer recomeço significa uma grata
oportunidade de crescimento. Além da chance de ter acesso a informações que, no
fim acabará por nos proporcionar mais prazer do que todos os que até o momento
temos experimentado.
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