sábado, 21 de janeiro de 2012


Preocupações eternas e amores efêmeros

Mais do os encontros, pelo menos duas vezes por semana, recheados de carinhos, confissões de amor e repletos de carícias, o que mais embalava a sua alma era mesmo o momento em que ela ia pra casa.
Não que não gostasse da companhia da suposta mulher da sua vida, mas exatamente por isso. Tinha tanto medo de perdê-la, que a cada nova despedida, mais do que sentir a dor da separação, o que lhe invadia era mesmo a necessidade de preservar a sua integridade. Integridade que lhe garantiria o próximo e esperado encontro. Entre estes, mensagens e telefonemas eram (quase) que o suficiente para lhe manter na certeza de que ela estava inteira e feliz. E era inteira e feliz que ele a via chegando em casa: pronta para descansar e levar-lhe inteiro para o mundo dos sonhos e devaneios.
Pedia-lhe, como é próprio dos amantes, que lhe ligasse ou mandasse uma mensagem dizendo que chegara bem. Fazia a sua parte. A de homem, a de amante, mas acima de tudo a de quem sente a necessidade intrínseca de proteger o ser amado.
E havia a reciprocidade. Sempre há que ter uma reciprocidade para que o jogo da proteção mútua não se perca no vazio da paixão superficial.
Ela, por sua vez, traçava planos e estabelecia regras futuras para o torná-lo mais humano e um homem à altura das suas expectativas. Manter-se belo e limpo: cheiroso e de barba feita. Devia parar de fumar, que isso tava fora de moda e prejudicava a saúde.
Ele concordava. Ela concordava. Estavam de acordo sobre os benefícios do atendimento às exigências de cada um. Barba feita e relatório de chegada eram coisa bem pequenas diante de tanto zelo e um preço baixo diante de tanto carinho mútuo.
Até que um dia aquele suposto amor eterno teve um fim. Cada um pra cada lado. Não mais encontros, carícias ou planos. Não mais preocupação ou zelo.
O que ficou, pra ambos, foi apenas a sensação de vazio por não ter mais com quem se preocupar. A chegada dela em casa, já não mais fazia a menor diferença. Tampouco à ela o tamanho da barba que ele passou a usar.
Ela passou a chegar à quatro da manhã e ele hoje fuma o dobro.
Se ele morrer de efizema ou ela for atacada por um maníaco ao chegar em casa, tanto faz. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário